Concepção da obra O EU, O CRISTAL E A ÁGUA:

"Não sei sambar, não sou religiosa, nunca fui ao terreiro, não entendo de futebol, não gosto de carnaval, mas sei que sou brasileira."

Bem poderia ser essa frase o nome do espetáculo se tão grande não fosse. Uma obra que discute a questão da BUSCA do EU em plena crise do pertencimento como afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. A busca pela permanência de uma subjetividade em seu processo transitório. A busca por traços identitários não descobertos, mas inventados, comercializados e consumidos.

O EU, O CRISTAL E A ÁGUA trata de nossa contínua busca em relação à "quem somos", o que nos identifica e nos singulariza como persona, como cidadão, como pertencentes a uma sociedade ou uma nação. A obra não pretende discutir "a" identidade brasileira, ao contrário, questiona até que ponto somos nós os definidores dessa identidade, ou são os outros. A preocupação e provocação não é com o resultado, mas com a BUSCA.

Não sei sambar, não sou religiosa, nunca fui ao terreiro, não entendo de futebol, não gosto de carnaval, mas sei que sou brasileira. Assim é como me sinto, mas como metáfora poderia servir a muitos outros não identificados com o Brasil "exotique". O projeto utópico do novo édem - o Novo Mundo - criado um dia pelos nossos colonizadores trouxe, inexoravelemente, a subjetividade da diferença = o que nos difere dos outros (estrangeiros) é a própria diferença encarnada como nação, agora não mais definida como una, mas compreendida como múltipla.

"O EU" do título poderia levar ao entendimento das singularidades e dos pertencimentos (sociais, religiosos, culturais, sexuais, etc.), mas apostamos na idéia (da busca) de identidade pelo seu aspecto irrevogável de alteridade e de transitoriedade. Por isso, na sequência: "A ÁGUA". Somos cientes das nossas idiossincrasias que só fazem sentido por justamente não pertencerem ao outro, por serem diferentes daquelas que o "vizinho" possui. Sabemos, no entanto, que tais características não podem ser fixadas como "O CRISTAL". Como afirma Zygmunt Bauman, somos seres fluídos de uma modernidade (contemporaneidade) líquida. Somos seres culturais e, portanto, processuais, pois ambos ser humano (brasileiro) e cultura (Brasil) são indissociáveis e estão em constante transformação.

O EU, O CRISTAL E A ÁGUA faz uma reflexão e provoca questionamentos sobre esses corpos bio-psiquico-sócio-econômico-culturais, em sua busca pelo pertencimento na existência transitória tão acirrada nestes dias da Cultura Digital. Contexto este pertencente ao mundo globalizado, às metrópoles sempre em vigília, a um sistema turbulento e vertiginoso, onde as fronteiras foram apagadas, modificando do crivo geográfico para a especificidade do virtual.

Colocamos em foco a busca desmesurada ao pertencimento de um EU contextualizado (brasileiro) construído entre a permanência - a parcela - CRISTAL -, e a transformação em sua condição de ÁGUA.

O EU, O CRISTAL E A ÁGUA embrenha-se com este projeto de colaboração telemática "SÓ O SEU VIZINHO É ESTRANGEIRO que o complementa com imagens criadas por internautas do ciberespaço.

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Topic revision: r6 - 31 Oct 2017 - 13:06:56 - JuVemario
 
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