Percepção de apoio social e caracterização da rede de dependentes e não dependentes de substâncias psicoativas
por DE SOUZA, Jacqueline em
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A sociedade brasileira marcada pelo traço de desigualdade social é um dos cenários no qual a questão do uso de álcool e drogas coexiste com as condições e relações sociais, arranjos familiares e situações de estresse. Assim, a dependência de substância, as co-morbidades, modalidades de tratamento e recaídas durante o processo de reabilitação são fatores que devem ser contextualizados neste cenário. Em relação às políticas públicas a Organização Mundial da Saúde, no âmbito da saúde mental, prevê o tratamento dos portadores de sofrimento psíquico como seres sociais visando a reintegração destes sujeitos na comunidade; o Ministério da Saúde, na proposta do Sistema Único de Saúde por sua vez, preconiza a atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas priorizando a atenção primária, a educação em saúde, garantia de atenção na comunidade e envolvimento das redes sociais. Os estudos recentes trazem à luz a importância da abordagem da rede e apoio social nesta área como possibilidade de repensar e propor novas perspectivas para o aprimoramento da pesquisa e da prática em saúde mental com foco nos indivíduos dependentes de substâncias psicoativas. Portanto o presente estudo diz respeito ao apoio social e uso de drogas considerando os sujeitos inseridos em seus contextos de relações e condições sociais. Logo o objetivo proposto foi o de analisar a diferença entre dependentes e não dependentes de substâncias quanto à percepção de apoio, utilizando um instrumento de medida de apoio social validado, e identificar possíveis especificidades da rede de apoio destes indivíduos. O referencial teórico metodológico adotado é o de apoio social na perspectiva do Buffering Model, e a Análise de Redes Sociais (ARS). A amostra dos sujeitos foi composta por indivíduos do Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPSad) e de uma Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) do município de Ribeirão Preto totalizando 102 indivíduos sendo 50 dependentes e 52 não dependentes de substâncias. Foram observados os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos a saber, aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, consentimento livre e esclarecido e observação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Quanto aos resultados a amostra foi homogênea em relação às baixas condições sócio-econômicas e escore referente ao número de apoiadores. No entanto, em relação ao escore de satisfação com o apoio social os dependentes de substâncias mostraram-se menos satisfeitos com o apoio social disponível quando comparados com os não dependentes de drogas (diferença estatisticamente significante). Apesar disso, os indivíduos do CAPSad apresentaram redes mais diversificadas em sua composição enquanto os não dependentes de drogas apresentaram redes mais densas centradas, de um modo geral, no círculo familiar. Convém destacar que entre os não dependentes de substâncias, 27% consomem álcool e ou outras drogas num padrão que, embora não caracterize dependência, de acordo com os pontos de corte do Questionário para Triagem do Uso de Álcool, Tabaco e outras Substâncias (ASSIST) seriam beneficiados da intervenção breve. A discussão dos resultados deste estudo, certamente dará uma contribuição importante tanto para direcionar as práticas terapêuticas vigentes quanto para subsidiar futuras investigações da área.