Entre terreiros e roçados: a construção da agrobiodiversidade por moradores do Rio Croa, Vale do Juruá (AC)
por SEIXAS, Ana Carolina Pinto de Souza em
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Esta dissertação trata da diversidade de plantas cultivadas por famílias habitantes das margens e arredores do rio Croa, Vale do Juruá, estado do Acre. Ela tem como objetivo analisar as formas de manejo, uso, conservação e circulação das espécies e variedades agrícolas entre os moradores da comunidade do Croa. Foram realizadas duas expedições a campo, cada uma com dois meses de duração. Foram levantados os dados sobre a origem, o uso e a história das plantas cultivadas e feito o mapeamento dos espaços agrícolas onde estas ocorrem. O levantamento foi realizado junto a 19 famílias da comunidade. O cruzamento dos dados sobre a diversidade agrícola com as histórias de vida e as genealogias dos moradores permitiu entender as trajetórias sociais e espaciais nas quais se inserem essas plantas cultivadas bem como a organização espacial das moradias e as formas locais de acesso à terra e aos seus recursos. Pôde-se constatar uma elevada diversidade agrícola, sobretudo nos espaços adjacentes à casa com numerosas plantas ornamentais. Já os roçados, cujo principal cultivo é a mandioca (ou roça), manejados por meio de corte e queima da vegetação, são constituídos por um número mais restrito de espécies e variedades, ainda que algumas plantas sejam conservadas dentro da capoeira até uma nova derrubada. Dois novos cultivos estão emergentes nessas comunidades: o da rainha (Psychotria sp.) e o do jagube (Banisteriopsis caapi) para produção do chá ayahuasca. Estas plantas de valor religioso e simbólico representam atualmente fonte de renda significativa para os moradores da região. Os dados obtidos permitem uma análise do estado da agrobiodiversidade no Croa e aponta para possíveis mudanças frente à pavimentação da BR-364, com uma maior ligação aos pólos de agrobusiness e à futura transformação da área do Croa em reserva extrativista.