A reinvenção do uso da ayahuasca nos centros urbanos
por LABATE, Beatriz Caiuby em
« Voltar
| UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
São Paulo |
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social |
As religiões ayahuasqueirasbrasileiras, sobretudo a União do Vegetal (UDV) e o Santo Daime, vêm se espalhando pelos grandes centros urbanos brasileiros a partir das décadas de 70 e 80, respectivamente, e por outros países, sobretudo desde o final da década 80. Um desdobramento deste processo é o surgimento de novas modalidadesurbanas de consumo da ayahuasca: pequenos grupos experimentais que utilizam a bebida em atendimento psicoterapêutico em vivências no universo neuJage, em contextos relacionado às artes, como no teatro e na música, ou mesmo atividades com os moradores de rua da cidade de São Paulo (SP). Estes pequenos grupos em formação foram denominados neo-ayahuasqueiros. Tais sujeitos vivem uma tensão entre, por um lado, rejeitar os modelos religiosos tradicionais das matrizes ayahuasqueiras disponíveis e, por outro, não cair no uso representado como profano de drogas. São então fabricados novos tipos de rituais e elaborados discursiva e simbolicamente referenciais filosóficos, existenciais, terapêuticos e mesmo religiosos, que introduzem rupturas significativas no universo de consumo da ayahuasca no Brasil. Neo-ayahuasqueiros estão inseridos numa rede urbana de consumo da ayahuasca, onde há uma circulação constante de informações, conhecimentos, pessoas, substâncias e capital. Esta rede faz parte do campo ayahuasqueiro brasileiro que interliga os diversos grupos tidos como tradicionais (Alto Santo, CEFLURIS, Barquinha e UDV) e atravessa em alguns casos nossas fronteiras, atingindo curandeiros peruanos ou mesmo modernos curandeiros oriundos de países do primeiro mundo. Estas novas modalidades urbanas de consumo da bebida de origem amazônica estão ligadas a processos mais amplos que vêm ocorrendo na modernidade. A dissertação é principalmente um estudo de caso de um neo-ayahuasqueiro, o terapeuta holístico Janderson, coordenador de um centro erapêutico na cidade de São Paulo e líder de um grupo chamado de Caminho do Coração. Completamos essa etnografia com um panorama de outras tendências ayahuasqueiras urbanas, visando fornecer uma contribuição para a compreensão do campo ayahausqueiro brasileiro em suas contínuas reinvenções, assim como a respeito da natureza e dinâmica das novas religiosidades urbanas.