Estudo da ação psicofarmacológica de Herissantia crispa (L.) Brizicky (Malvaceae)
por PEREIRA, Charlane Kelly Souto em
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A espécie Herissantia crispa (L.) Brizicky, popularmente conhecida como malvaísco, é uma planta pertencente à família Malvaceae. Não há muitos relatos sobre H. crispa na literatura, no entanto, esteróides, flavonóides e glicosídeos flavonoídicos com atividades comprovadas foram isolados desta planta. Outras espécies da família Malvaceae são usadas na medicina tradicional e estudos comprovaram atividades anti-inflamatórias, antinociceptivas, diuréticas, entre outras. O objetivo do presente trabalho foi avaliar as possíveis ações psicofarmacológicas do extrato etanólico de Herissantia crispa (EEHc), pela investigação de seus efeitos no sistema nervoso central (SNC), em camundongos. Inicialmente, foi realizada a triagem farmacológica comportamental, para verificar o possível efeito do EEHc no sistema nervoso. Algumas alterações comportamentais semelhantes às de drogas depressoras do SNC foram observadas nos camundongos tratados, tais como, redução da ambulação e pequeno grau de ptose. Nas 72 horas seguintes não houve morte dos animais, nem presença de sinais tóxicos na maior dose possível (2000 mg/kg i.p), sendo estabelecidas as doses de 500 e 800 mg/kg para os testes subsequentes. Nenhuma das doses testadas do EEHc diminuíram o tempo de permanência dos animais na barra giratória no teste do rota-rod. No teste do campo aberto, as duas doses testadas do EEHc diminuíram significativamente a ambulação, o comportamento de levantar e a defecação, sugerindo perfil semelhante ao de drogas sedativo-hipnóticas. O comportamento de autolimpeza não foi alterado por nenhuma dose. O tratamento dos animais com o EEHc nas doses testadas não alteraram seu comportamento no teste do labirinto em cruz elevado e também não protegeram os animais contra as convulsões induzidas pelo eletrochoque auricular, descartando-se os efeitos ansiolítico e anticonvulsivante, respectivamente. As doses de 500 e 800 mg/kg do EEHc induziram significante potencialização do tempo do sono induzido pelo tiopental, no entanto, não alteraram a latência de indução do sono, característica semelhante à de drogas sedativa-hipnóticas. Na avaliação da atividade antinociceptiva, o EEHC reduziu significativamente o número de contorções abdominais, evidenciando atividade antinociceptiva. Tal efeito não foi dose dependente, pois foi mais pronunciado na dose de 500mg/kg do que na dose de 800mg/kg. No teste da placa quente o EEHc aumentou o tempo de latência ao estímulo térmico apenas na dose de 500 mg/kg, 60 minutos após o tratamento. No teste da formalina, o EEHc na dose de 500 mk/kg só foi capaz de reduzir o tempo de lambida na primeira fase do teste, mas a dose de 800 mg/kg reduziu o tempo de lambida da pata na primeira e segunda fase do teste , confirmando assim o efeito antinociceptivo de ação central. Para detalhar essa atividade antinociceptiva, realizou-se o teste da formalina submetendo os animais a um tratamento prévio com a naloxona, um antagonista opióide, no entanto, o efeito antinociceptivo não foi revertido, excluindo assim a participação do sistema opióide no mecanismo desta atividade. Portanto, baseado nos resultados obtidos no presente estudo, o EEHC apresentou características de drogas com perfil sedativo-hipnótico e atividade antinociceptiva central, sem participação do sistema opióide.