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FACED - Faculdade de Educação
CURSO – Licenciatura em Pedagogia
CICLO SEIS – ANO 2006
ALUNO – Antônio Cecílio
ORIENTAÇÃO – Margareth Dourado e Luiza Seixas
MEMORIAL PEDAGÓGICO
UFBA/IRECÊ-BA
Irecê-BA, Dezembro de 2006
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
O CIRCUÍTO INDIVÍDUO/PROFISSIONALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE O TODO E AS PARTES
O X DA QUESTÃO
AS EVIDÊNCIAS DO COTIDIANO NA ADOLESCÊNCIA
OPORTUNIDADES DE ENSINAR E APRENDER
UM PASSAPORTE PARA A NOVA FORMAÇÃO
EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO: O des (encanto) da realidade
RELAÇÕES PESSOAIS IMEDIATAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APRESENTAÇÃO
Este Memorial pedagógicos apresenta,de forma discursiva, circunstanciada e numa perspectiva histórica, uma análise crítica e real das atividades acadêmicas que desenvolvi ao longo do período de formação e na atuação profissional. São destacados os elementos constitutivos dessas trajetórias que foram fundamentais para a dinamização da prática em sala de aula e que acabaram servindo como referências para o universo de possibilidades em termos de novas perspectivas de formação e de atuação.
No despertar destes novos tempos em que os avanços tecnológicos e a expansão dos meios de comunicação definem diferentes exigências para a análise crítica da realidade, elaboro este memorial de formação que integra as minhas minhas idéias sobre a vida social, com a intenção de direcionar a você, leitor, uma rica experiência de trabalhoprofessores e de saberes adquiridos na prática de sala de aula.
Para vencer este desafio e compreender os múltiplos jogos de significados que os conhecimentos sistematizados e atualizados criaram, procurei me despertar no debate, na pesquisa, e na produção de textos, apropriando da linguagem oral e escrita. Com isto, o meu desempenho na sala de aula ficou mais dinâmico.
Também Chauí, (2002, P. 130), acerca desse contexto, afirma que é da memória que os homens derivama experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa reproduzem um efeito duma única experiência.
Quando passei a entender as relações históricas entre a sociedade, a natureza e o mundo do trabalho, tive mais discernimento sobre os fatos pedagógicos. Lembro, porém, que para o entendimento e compreensão dos fatos e situações que estãopresentes nestas relações foi preciso que eu estivesse disposto a participar, juntamente com os professores das atividades do processo ensino e aprendizagem, buscando no exercício do diálogo e da reflexão, o domínio dos conhecimentos sistematizados pela faculdade com espírito de confiabilidade.
As atividades realizadas durante esse processo, têm sentido como parte da minha formação para as escolas em que trabalho. Ao envolver-me com essas oficinas, passei a incorporar, naturalmente, as possibilidades de expressão para além da oralidade e da escrita, passei a pensar e elaborar discursos com propósito de usar as diferentes linguagens, hoje disponíveis no nosso cotidiano para expressar idéias e provocar o diálogo.
O CIRCUÍTO INDIVÍDUO/PROFISSIONALIDADE: AS RELAÇÕES ENTRE O TODO E AS PARTES
“Registrar o passado não é apenas falar de si, é falar dos que participaram de certa ordem de interesse e de visão do mundo, no momento do tempo que se deseja trazer algo à lembrança”. (Holanda, 1995, P. 31)
Filho de valdete Gonzaga e Euflásio Cecilio, pertencente a uma família de trabalhadores do Distrito de Aguada Nova, Lapão-Ba, eu tenho como referências pessoais, a determinação de um jovem negro que substitui o tempo de aprender as primeiras letras pelo trabalho nas lavouras de outrem, na produção de milho, mamona e feijão. A persistência, resistência e seriedade do meu pai, descendente de escravos, fizeram com que eu conseguisse alcançar o nível de alfabetização do ensino com muito esforço e com uma das caligrafias mais deformada que as professoras já conheceram.
Ter nascido dessa união tem um significado muito especial, que não pode ser traduzido por qualquer tentativa de racionalização sobre a minha história de vida. Contudo, a simples tentativa fortalece o sentimento de que o tempo passa, as pessoas mudam, mas as experiências que vão sendo adquiridas ao longo da vida, desde a mais tenra idade, compõem a nossa própria essência, condiciona e provoca os nossos sonhos. São referência para as minhas perspectivas.
Lembro-me dos meus sete anos, quando tive que ir à escola pela primeira vez. Foi um momento tão esperado, que acabei não indo no dia previsto, fiquei com medo das professoras, secretárias, merendeiras, diretora e futuros colegas de classe. No dia seguinte, cheguei na sala comecei cobrindo as letras, soletrando e repetindo a leitura da professora. Nos dias atuais, essa orientação é por demais incoerente com as questões teóricas sob estudo que remetem para a permanência da colaboração no processo de construção do saber. Porém nesse estudo, que se situou numa linha de
ensino tradicional apontou alguns momentos de estranheza que a imagem da infância assume nesta perspectiva.
Na Escola eram realizadas as atividades de instrução, baseadas no ensino de leitura, escrita e aritmética, nas ciências naturais e sociais e outras atividades ligadas ao currículo formal para cada série. A ligação com os princípios tradicionais era evidente na postura das professoras que se limitavam em realizar exposições verbais dos conteúdos, nesse momento era terminantemente proibido qualquer desatenção ou conversa paralela, o silêncio era a principal regra que deveríamos obedecer depois de ordenados em fileiras nas salas de aula. Uma grande ênfase era dada à repetição, as rotinas de trabalho na sala de aula passavam pela leitura individual e em voz alta dos textos do livro de Português. Nesses momentos, deixar de aplicar a entonação correta, a cada ponto ou vírgula, era motivo de interrupção brusca e correção impaciente da professora.
Entrar na escola foi algo tão marcante que ainda lembro das primeiras aulas nas salas com as professoras leigas, porém, respeitads por todos pela incrível forma de alfabetizar as crianças. O interessante era que mesmo quando estava em casa, a brincadeira predileta passou a ser a imitação do que ocorria na sala de aula. Não demorou para que minha mãe se esforçasse para presentear-me com uma pequena lousa, o que tornaria completa a simulação diária realizada com meus irmãos e colegas de sala.
Estudar matemática era agradável, porém, o que mais me assustava era o dia da sabatina, para o qual os alunos tinham que ter decorado a tabuada. Cometer um erro, no momento em que a professora perguntava individualmente, era fatal. Tenho fortes recordações da separação da turma entre “fileiras dos sabidos” e “fileiras dos burros”. Até a quarta série, os valores tradicionais estavam presentes, os professores tinham uma postura autoritária, as aulas praticamente não se diferenciavam quanto à estrutura de apresentação de conteúdo e aplicação de exercícios, os conceitos e fórmulas deveriam ser repetidos e memorizados, o intenso controle disciplinar era constante tanto dentro quanto fora das salas de aula. Dedicar-se aos estudos, naquele momento, representava, para mim, em primeiro lugar a chance de ficar isento da vergonha de não saber, depois a busca da valorização atribuída pelo professor aos alunos que tivessem os melhores desempenhos e, por fim, significava entrar no jogo da competição entre colegas pelas melhores notas. Um dos momentos mais esperados era o resultado da unidade e o resultado final para a aprovação da série seguinte.
Anos se passaram, fui mudando de série, a ponto de perceber a importância das letras e das operações matemáticas. Durante sies anco anos de estudos, conclui o 1º e 2º ciclos (período que vai da primeira até a quarta série). Esse tempo extenso para conclusão do primário, foi devido ao fato de se estudar, inicialmente, a alfabetização, a cartilha, e depois a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries.
Em seguida passei para o 3º ciclo ( fase referente à quinta e sexta séries do ensino regular).
A partir da 5ª série, tive a oportunidade de ser matriculado no Centro Educacional Cenecista Antônio Matos Filho, nome de um colégio de Aguada Nova, município de Lapão-Ba, em que estudei durante oito anos. Agora, já adulto, relembro alguns aspectos desse período. Os fatos ocorreram num ambiente aberto do colégio, no qual convivem crianças, adolescentes, professores e empregados. As recordações e impressões que marcam minha vida neste local não são reproduções exatas de certa realidade, mas o resultado de uma experiência em termos de fatos gerais. Desse modo, a instituição, os colegas, professores foram representados em função de minhas lembranças e significações de um relacionamento tumultuado, mas bem simpático, por natureza.
Os companheiros de classe eram, cerca de vinte e cinco, uma variedade de pessoas que me divertiam. O Edivan, pequeno, magrinho, cabelos baixos, cheio de histórias absurdas, como dizia o professor Claudinez, era o mais palhaço; o Dilton, galego, cabelos meio ruivos; o Derlean, playboizinho da turma, namorava quase todas as meninas; o Alberlan Pires, o riquinho, bancava todas as despesas dos colegas, para se exibir diante das meninas. Ah! Não posso esquecer de citar o mais irreverente, eu, Antônio Cecílio, rosto cinzento por falta de creme, o mais humilde por não ter tradições familiar no estudo; fortíssimo em tabuada, cinco vezes três, vezes dois, noves fora, lá estava eu nervoso, trêmulo, mas sacudindo no ar o dedinho esperto.
Na verdade, esta era a “turma do fundão”. O resto, uma cambadinha indistintas de “patricinhas” e “mauricinhos”, adormecidos nos primeiros lugares, sempre faziam abaixo-assinado para nos tirar daquela sala.
O X DA QUESTÃO
Durante o primeiro mês de colégio, um pensamento de um feriado causava em mim uma forte alegria. Quando tornei à vida de à-toa, entrei em casa desfeito em vaidade, em exuberância de um dia ou uma semana de folga. Afinal de contas, uma aula vaga era motivo para comemorações de todos os alunos. De volta às aulas, surgiu o grêmio estudantil, o verdadeiro teatro dos soberbos alcances na vida de alguns alunos. Duas vezes por semana, organizavam-se os amigos do esporte, numa das salas ao canto. Às suas reuniões aparecia eu, timidamente, para nada mais que simplesmente abusar, por excesso, de um direito que o estatuto me assegurava.
A dificuldade que um estudante encontrava para ter o privilégio de participar de um grêmio estudantil fazia-me, mais a fundo, vulnerável, pois eu não tinha muita desenvoltura na execução das tarefas. O Vinicius, aluno do terceiro ano, não teve o menor embaraço; entrou para o estabelecimento muito adiantado, foi imediatamente proposto, aceito e empossado. Ele falou durante uma hora e meia com uma influência que lhe angariava para sempre uma palavra de qualidade. Eu, que nada tinha de artista, só falava "causos" que as pessoas não entendiam. Com certeza, eu não podia contar com votos do bom povo, pois estive a fazer bobagens. Diante disso, o colega foi proclamado o magno dos magnos. Desse memorável dia, todos que foram matriculados naquele colégio, não podiam esquecer. Daí em diante, que o presidente do grêmio estudantil não podia dar um passo a não ser que fosse com seriedade firmada e jurada diante de todos.
Para não destoar da percorrida fama, ele ficou envolvido com direitos e deveres dos alunos, e com muito orgulho, diga-se de passagem. No grupo, tinha poetas, jornalistas, polemistas, romancistas, críticos, etc. Os alunos já tinham seu órgão.
Em meio a esse movimento geral da existência do grêmio estudantil , eu observava caprichosamente os fatos, sem saber de nada, de modo encantador e fraternal. O presidente conversava com os mais jovens, falava da família, falava dele, dos tempos passados. Paramim aquilo era encantador, mas eu não tinha argumentos suficiente para contra-atacar. As atividades do nosso órgão representante me marcavam em duas ocasiões de sobriedades: festas anuais de abertura e de encerramento dos trabalhos. Além destas, as sessões comemorativas do colégio. Para as festas culturais, lavávamos o pátio, colocávamos algumas mesas para a diretoria, sob um rico pano de cor vinho, de ramagens negras que davam um tom de agouro. Esse fato significava muito esforço e dedicação pelo colégio.
Quando se aproximava a época das férias do meio do ano, a nossa turma ia logo inventar algumas brincadeiras: a peteca subia como foguete, palmeada em nossas mãos; inventávamos as bolas de gude; vinham os jogos de salto sobre um tecido de linho; a amarelinha entrava em cena; vinha depois o jogo de corrida entre aqueles que gostavam do “chicotinho queimado”. Vivíamos os momentos de narração; o pátio se animava com o revoar de penas, com o estalar das bolas passando como pedras e atingindo a vidraça das janelas.
Já na semana anterior às férias, eu mesmo combinava, com a "galera toda", um lugar de encontro para todas essas brincadeiras. Havia também os jogos de parada, em que circulavam como preço os selos postais, as carteiras de cigarro.
Com a proximidade das férias de fim de ano, tudo desaparecia. Os colegas saiam para as roças e o aborrecimento imperava. A impaciência da expectativa de livramento daquela monotonia fazia maior a prisão dos últimos dias. Eu, solitário, ia e vinha do colégio, percorrendo as salas, reclamando o prazo da impaciência, vendo pairar pelo pátio o momento de recreio que tanto aproveitávamos. Ali, eu lembrava dos minutos demorados dos recreios, nos quais eu e meus amigos organizávamos a exposição dos trabalhos de sala de aula.
Por falar em recreio, as provocações nesses momentos eram freqüentes provimentos de brigas. Os inspetores precisavam interferir nos conflitos, a "galera" andava em busca de sucessos.
AS EVIDÊNCIAS DO COTIDIANO NA ADOLESCÊNCIA
"O passado não é o antecedente do presente, a sua fonte" ( BOSI, 1979: 48)
Havia na CNEC (Campanha Nacional das Escolas da Comunidade), alunos dóceis, criaturas escolhidas a dedo para o papel de complemento objetivo de caridade, tímidos e bem comportados. E nós, a “turma do fundão”, com todos os deveres, nenhum direito, nem mesmo o de prestar atenção a nada, tínhamos que fazer alguma atividade para brilharmos diante dos mestres. Em retorno, os professores tinham a obrigação de nos fazer brilhar, por que caridade que não brilha é caridade perdida. E os professores já sabiam de que se fôssemos contrariados, a bagunça tava feita. Esse processo funcionava como uma espécie de chantagem, ou seja, alunos homenageados, aulas aplicadas com maior segurança.
Vale salientar que isso era no ensino fundamental. Na primeira semana do mês de setembro de 92, quando estávamos no pátio, ensaiando a entoação do Hino de Lapão-Ba, do Nacional e da Pátria, houve certo desentendimento entre Edimário Novais e Gilderlan Rosendo, ambos da “turma do fundão”. Consta que houve mesmo agressão física. Os condenados negaram depois. Em todo caso era de efeito simples, engrandecido pela "espalhação" do boato.
Concluída a chamada dos indiciados, a sala toda respirou tranquilamente. No recreio a rapaziada dispersou-se com os gritos festivos. Edimário, sobretudo, estava de um descontentamento nunca visto. Casualmente em liberdade, sem suspensão nenhuma, e também por não ter havido informações aos pais, o Gilderlan Rosendo fazia da circunstância uma pura pirraça contra o Edimário: ”Eu é que sou mau”, repetia andando na sala, “eu é que sou o bandalho, a peste do colégio! O mal sou eu”. Edimário foi gradualmente perdendo a paciência, atirou-se por fim ao Gilderlan, desesperado, lançou-o ao piso, meteu-lhe os pés, mas os separamos daquele conflito.
No outro dia, em nome do diretor, foram convocados os responsáveis, e mais ou menos dez testemunhas, e eu no meio. Fomos alinhados no corredor que partia para a sala do diretor. Na qualidade de presos escolares, vítimas da desconfiança do diretor, não nos envergonhávamos de pedir perdão. Uns conversavam gracejando, outros se sentaram no sofá. Junto de mim ficava um armário dos materiais escolares, revestido-se a vidraça de uma tela protetora de metal. Por trás do armário, havia uma porta. Os responsáveis conversavam do outro lado com o diretor. Eu ouvi algumas palavras perdidas... De boa família, um descrédito! Vão pensar... Expulsar não é corrigir... Isto é o menos... Não há gratuitas... Sim, sim. Quanto a mim... Beleza.
Decididamente, foi um dia sinistro. Da sala, ouvimos enorme barulho no pátio. Recomeçavam as vaias. Era um tumulto espantoso, gritos dos jovens em revolta por causa da fila da merenda. Os inspetores chegaram aterrorizados, procurando o diretor e mostrando a cara dos alunos que estavam empurrando os outros na fila. Adivinha logo. Essa bagunça é por causa do corte da fila por parte dos filhos das merendeiras e também dos filhos dos outros empregados do colégio. Uma velha queixa. A comida da CNEC não era péssima. O razoável para algumas centenas de alunos. Mas o que aborrecia era a impertinência investida daqueles “furadores” de fila.
Diante dessa revolução, o diretor indagou: Mas porque, meus amigos, não formularam uma representação?
Alguns alunos responderam:
- A representação é o motim reduzido à expressão desordeira. Logo o diretor refutou:
- Qual a necessidade da representação por arruaças? Têm toda a razão... Perdão a todos. Porém sou tão enganado, quanto vocês.
Voltando ao caso de Edimário e Gilderlan, o diretor torturava-os ainda em cima do serem ou não serem expulsos. A situação deles era complicada, pois já eram reincidentes. Moralidade, disciplina, tudo junto, era demais! Era demais! Esbravejava o diretor. Neste momento entrava-lhe a justiça pelos bolsos como um desastre. O melhor a fazer (pensamento do diretor) era suspender os principais responsáveis por três dias letivos.
Eu que tinha um “pé atrás” com o diretor, percebi naquele instante que a justiça não fora feita. No entanto, algumas palavras, com ar de ternura, de todo o ressentimento ficavam transparentes, e nenhuma punição houve para os envolvidos.
Hoje, por conta de estudos acadêmicos, num tipo de comportamento mais estável, percebo as políticas como representações do mundo e como concretização da realidade social, mas naquela época isso não foi possível devido às falta de informações necessárias.
No segundo grau, tive outros tipos de atitudes, outros tipos de comportamento. Essa mudança foi motivo de comentários no colégio e em toda a comunidade durante o ano todo. O interessante é que nos intervalos sempre tinham as brincadeiras esportivas. Antes, nenhum grupo me queria presente, mas devido à mudança de comportamento, passei a ser o primeiro dentre as preferências, principalmente porque eu tinha muita habilidade nos esportes, fazendo com que os colegas se sentissem obrigados a me escolher, ou então perderiam o jogo.
Os fatos estavam tão favoráveis para mim, pois os colegas, também me convidavam para explicar os assuntos que eles tinham dúvidas. Isto me faz relembrar das aulas de matemática financeira, nas quais eu fui mediador: a experiência deu tanto certo que tomou dimensões municipais. Como eu já estava mais experiente, passei a fazer parte de comissões de estudantes, participando de campanhas e eventos em prol da comunidade, tais como: gincanas, jogos esportivos, bingos, etc. Mas eu não poderia me envolver muito porque o terceiro ano do curso de Magistério se aproximava e o trabalho ficou mais complicado. O trabalho ficou tão difícil, que em um determinado dia eu tive vontade de colocar fogo nos materiais do Estágio de Regência de Classe, mas meus colegas não deixaram que tal fato acontecesse. Eu quis fazer isto por conta das exigências da professora/orientadora da disciplina.
Falando em estágio, a professora orientadora propôs sorteio de séries e das duplas para assumir o Estágio de Regência de classe. Fui sorteado para ficar com uma mulher. Quando cheguei à sala que fui designado para estagiar, fiz a apresentação pessoal, e logo cerca de dez crianças correu em minha direção. Alguns choravam, outros gritavam e me agarravam. Foi um desespero total. Eu não sabia como contornar aquela situação, era a verdadeira bagunça. Mas eu tinha que suportar, pois eu já tinha vencido as duas primeiras etapas do curso (Magistério): - o estágio de observação - e o estágio de cooperação.
O estágio se passou e veio a mais badalada solenidade que o colégio já tivera. Meses de reuniões para decidir a roupa da solenidade e convidados de honra. Depois de tantas discussões, decidimos que os formados usariam becas pretas com detalhes brancos à altura do pescoço, acompanhadas de chapéu. Eu estava todo ansioso com a colação de grau que cheguei duas horas antes do tempo. Chegou o momento de entrarmos na igreja: tapete vermelho, músicas instrumentais e o mestre-de-cerimônias anunciando nossas presenças. Nunca tinha visto uma missa demorar tanto. E o que mais me deixaria nervoso, era o fato se ser orador da turma. Essa tarefa tornou-se para mim, uma atividade didática,na qual fiz a produção textual que me ajudaria depois no trabalho docente dentro e fora da escola.Foi fundamental para o ingresso e a continuidade de minha formação.
OPORTUNIDADES DE ENSINAR E APRENDER
“No entanto, nas práticas escolares encontramos essa tentativa de recondução a um primum originário. Muitos professores ainda não percebem que a riqueza da escrita está na possibilidade de abrir-se para outras interpretações, desejando muitas vezes a presença do autor para uma interpretação mais confiável do texto”. ( Bonila, P. 123)
Depois de ter concluído o segundo grau em 1997, fui convidado a mediar, novamente, o curso de matemática financeira para a preparação do concurso público Municipal de Lapão. Neste dito concurso fui aprovado para o cargo de professor nível 1. Meses depois, comecei a trabalhar em uma escola da comunidade de Aguada Nova - Lapão-Ba. Neste período, precisamente em 1998, participei do curso de PCN de Matemática e de Língua Portuguesa, com carga horária de 80 horas. O curso foi ministrado pela professora Ieda Almeida, do Instituto Anísio Teixeira (IAT), na cidade de Lapão.
No ano seguinte, fui designado para trabalhar em outra escola, no mesmo povoado, desta vez com alunos do ensino fundamental. Depois disso, fui trabalhar no colégio da CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), mas conhecido, hoje, por CEAS (Cooperativa Escolar e Assistência Social) as disciplinas de Sociologia, Filosofia, Literatura Infantil, L.P.L.B - Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Com isso, fui adquirindo mais contato com as disciplinas e com o público. Também participei de vários eventos, representando os professores daquela entidade, tais como: jogos esportivos, seminários e desfile de modas. Aliás, no desfile de modas, eu tive que passar pelo processo de seleção de modelos. Cheguei com aquele jeito mecânico, andando feito robô. Mais fui relaxando, soltando o corpo, pegando as dicas e me acostumando com a passarela. Resultado: fui um dos melhores na apresentação do desfile. O evento foi em benefício aos alunos do 3º ano do curso de Magistério. Os formandos organizaram a festa para angariar recursos que se destinavam à solenidade no final do ano letivo.
Depois de muitos acontecimentos, surgiu o concurso público de Irecê. Pensei em fazê-lo. Estudei com os colegas e partimos para fazer a prova. Dias depois, saiu o resultado do gabarito, logo em seguida, o resultado da prova. O meu nome estava na lista dos aprovados. Voltei para a minha casa e dei a notícia à minha mãe. Arrumei meus materiais e parti para o lugar desejado.
Em 2001, iniciei meus trabalhos nas escolas de Irecê. Fui designado para a Escola Municipal Luiz Viana Filho, depois para a Escola Tenente Wilson e em seguida, para Escola Marcionílio Rosa. Tudo isto em apenas um mês. Essa rotatividade aconteceu pelo fato de ter sido o primeiro ano de trabalho na Rede Municipal de Ensino do Município de Irecê. Durante esta demanda, participei do estudo específico do Parâmetros Curriculars Nacionals de Português, de Educação Ambiental, Oficinas e Seminários da Rede Municipal do Ensino de Irecê.
Por falar em PCNs, no grupo de estudos de Português, no início, não entendia muito bem como funcionava, e não sabia o porquê de tantas reuniões. Depois de três encontros comecei a entender: existia a coordenadora e todas as pessoas deveriam se envolver de um jeito ou de outro nos trabalhos dessa equipe.
Na primeira semana eu quase desisti, mas comecei a pensar que nos outros grupos estava, também, difícil. Nesses primeiros encontros veio uma discussão na qual um professor era sorteado para fazer o relatório do encontro. O meu nome foi sorteado e eu aceitei, é claro. Isso até que me ajudou na construção desse memorial. Naquele momento, me senti um sujeito capaz de transmitir o que a escola e a vida haviam já ensinado, além de aprender com os colegas presentes. Isso me faz lembrar da importância da aprendizagem colaborativa.
Para que eu estivesse mais preparado para trabalhar com a educação, participei de um curso na Igreja Paulo Freire com Vasco Moreto. Aprendi nesse curso algo que ainda hoje está na minha mente: a gente alfabetiza através da realidade e se fosse sempre assim, não existia analfabetismo.
Quando a gente se envolve com um setor como o da Educação e trabalha com crianças, começa a se preocupar muito mais com a vida delas. Porém, não é fácil trabalhar com o coletivo: as pessoas pensam muito diferente uma das outros e têm experiências distintas. Um tem costume de um jeito e outro tem o costume de outro modo. A gente vai articulando e fazendo a discussão.
Quando o grupo de discussão iniciou sua formação, existiam vinte pessoas, aproximadamente, depois ficaram apenas doze. Com isto, percebi que o processo de discussão e organização, às vezes, não é bom nem igual para todos. Principalmente para aqueles que não estão acostumados a construir o próprio raciocínio; alguns fizeram a opção de sair, e isso deve ser respeitado. Afinal de contas, cada um tem o direito de escolher o jeito como quer viver e trabalhar.
Esta foi uma oportunidade nova em minha vida. Depois de um ano de debate, eu já tinha condições de fazer uma avaliação. Antes eu não tinha nem tempo para fazer isto, pois quando chegava ao centro de estudos, só pensava nas tarefas e planejamento coletivos, respeitando as particularidades.
Eu confesso que aprendi a viver junto com o outro. A coordenadora tinha uma organização mais completa, até porque nós fazíamos parte da comunicação e precisávamos estar sintonizados com os fatos. Hoje a vida, em valor material ou afetivo, é diferente por nossa causa e pela chegada da UFBA, que nos deu uma estimulada quanto à participação, à exigência dos direitos que temos. Isso só aprendemos quando começamos a participar e a nos sentir com direito a ter direito. Isso é ser sujeito atuante.
À primeira vista, a avaliação da minha formação, embora possa parecer estranha, traduz, contudo, as representações que muitos professores têm da sua formação e profissão. As competências profissionais foram sendo adquiridas a partir das práticas e em interação com alguma investigação, ganhando significado em contexto de pequenos projetos de autoformação nas mais variadas situações.
Estas qualidades ou competências, ou ainda aspectos investigativos, estão relacionados entre si, interagindo e reforçando-se mutuamente. Além disso, as produções permitem-me a aprendizagem ao longo da vida, apontando caminhos para a (re) construção das culturas organizacionais e profissionais. Todavia, convém precisar que os trabalhos acadêmicos não existem no/do vazio, pertencem à esfera do vivido, do agido e do visto, devendo os mesmos serem contextualizados e configurados numa perspectiva pedagógica.
UM PASSAPORTE PARA A NOVA FORMAÇÃO
"ainda que seja óbvio que a tecnologia desempenha um papel importante nas mudanças sociais, é pouco provável que em cada caso tenha sido o único fator ou causa inicial. Também há pressões do tipo político, econômico e social. A tecnologia pode fazer que em certas circunstâncias haja mudanças sociais, mas não as origina ou determina como se desenvolverão." (ELLIOTT, p .24).
Com relação ao programa de formação de professores, participei de oficinas que mostraram requisitos básicos para a formulação de um memorial, embasado nas produções textuais do eu estudante, eu professor e no programa de formação. Estes aspectos serviam de roteiro para a elaboração do “tal” famoso memorial. No entanto, foi através dele que tive a oportunidade de ser incluído na Faculdade de Educação, com licenciatura em pedagogia no ensino fundamental, bem como em séries iniciais. Este processo foi, a princípio, esperado com muita ansiedade, pois eu não sabia como se fundamentava um memorial. Mas devido a atuação de José Carlos e Márcea Salles, tudo foi ficando mais claro, a ponto de trocarmos experiências com situações vivenciadas.
É oportuno entendermos sobre a proposta do projeto Irecê inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, com o objetivo de superar o isolamento das disciplinas do ensino e levar a reflexão sobre a realidade vivida, assim como há mais tempo buscar o fazer através de denominações diversas, tais como: “centro de interesse”, “temas geradores”, “aula integrada”.
O que mais me importa em tais propostas é a constante atenção ética e desimpedida comunicação que se estabelece no diálogo interno à instituição, entre alunos, professores e funcionários, e no diálogo externo com os familiares e com a cultura ambiente das comunidades locais ampliadas nos níveis da região, do estado e do país.
Para além da necessária inteireza das ciências, vale dizer que das várias articulações dos conteúdos curriculares, agradeço à educação escolar por tematizar de maneira organizada as práticas culturais e a vida, inserindo o dia-a-dia da escola nas práticas culturais de meu tempo, com dimensão ética, exigente das amplas discussões críticas.
Em minha opção pelas propostas curriculares do projeto, além de considerá-las aptas a articular áreas distintas de saber na ação conjugada de uma equipe de educadores, me senti privilegiado no ãmbitos ético, político e democrático dos valores que se fizeram presentes nas relações pedagógicas, nas atitudes e nos comportamentos, entre duas pessoas ou mais.
No entanto, busco separar o moralismo das relações pedagógicas através de normas e regras, códigos de conduta, direitos e deveres pré-estabelecidos, que apenas sustentam as ações repressoras e legítimas à exclusão social. Busco também superar as distâncias das disciplinas escolares entre si e delas com o mundo da vida e com os processos que levam às aprendizagens das competências indispensáveis ao viver juntos, numa sociedade de iguais, na condição de sujeitos especialmente autônomos e socialmente capazes.
Entretanto, posso afirmar que foi nas alternativas curriculares e nas orientações didáticas que concluí, que muitas vezes, os alunos nos levam a descobrir novos horizontes e novas possibilidades. Poe esta razão, nos fechamos, não nos aventurando com medo de perder o controle de novas situações, o domínio de classe, etc. Agora percebo, que não posso perder de vista que a busca de novas metodologias me permite melhorar a aprendizagem e a prática docente, fazendo com que as aulas se tornem mais atrativas e mais interessantes.
Desa maneira, expresso sob a forma de reter impressões e conhecimentos adquiridos,na qual tive o tempo todo como desafiante companhia. Eu estava sempre dialogando com um possível e oculto interlocutor que se escondia por trás das minhas angústias. Em presença tanto mais exigente isso me contemplava num diálogo de cidadania, diálogo politizado e ético à medida que se fazem explícitas minhas concepções.
Diante disso, afirmo que ser professor é a mais prazerosa, e ao mesmo tempo a mais dolente das profissões. Isso porque nos coloca o tempo todo em contato com jovens revoltados, um contato que no leva a aprender sempre de novo, voltados para o futuro, mas também para as mazelas e os desrespeitos por parte pessoas, a quem dedicamos nossas vidas.
Meu estilo, já marcado por um incorrigível otimismo, e pela esperança de um mundo melhor, que já estou ajudando a construir, tem acentuado essas características. Às vezes, me dirijo a jovens que não se sentem responsáveis pelo mundo que herdaram e pelos desvios deles, pelo mundo com que sonham e que certamente saberão construir.
Em meio a tudo isso, vejo que democracia, política e ética se fazem, cada vez mais, palavras inscritas de maneira criativa no imaginário de nossos sonhos e perspectivas de vida solidária e sensível a tudo que é humano.
Dentro desse contexto de universidade, tenho a sofrida e a agradável lembrança dos demais cursistas quando les afirmam que ouvir e falar não dependem somente de manejo de certo vocabulário comum. Dependem também das vivências co-participadas em determinados contextos e das experiências do viver juntos. Apesar dos meus esforços por me expressar em linguagem acessível e de acordo com um universitário, sei de minhas sérias limitações a esse respeito. Peço por isso desculpas por solicitar a você(s) o esforço adicional requerido pelas leituras de meus escritos.
EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO: O des (encanto) da realidade
ser humano diferencia-se de outras espécies animais principalmente por ser capaz de valorizar, refletir e interagir comunicativamente para decidir quais as melhores orientações possíveis da ação, diante dos desafios e conflitos que surgem no campo da sua interação social e temporal. (Holanda, 1995, P. 33)
Na minha trajetória escolar na UFBA, confesso que apresentei dificuldades na contextualização das narrativas bem como para introduzir alguns aspectos na prática pedagógica. Mas eu vi que ser professor não é só uma questão de possuir um corpo de conhecimentos e capacidade de controle da aula. Isso poderia fazer-se com um computador e um bastão. Para ser professor é preciso, igualmente, ter capacidade de estabelecer relações humanas com as pessoas a quem se ensina.
No campo pessoal, e também no decorrer da vida profissional, procurei mudar a prática educativa para que pudesse alterar algumas concepções enraizadas e, sobretudo enfrentar velhos preconceitos. Contudo, posso afirmar que foi no momento da tentativa de mudança que senti a fragilidade da minha teoria, de minha organização. Porém, fica muito difícil mudar a prática educativa sem uni-la a uma apreciação da realidade; nessa perspectiva não se pode esquecer das concepções de pessoas, de sociedade, de currículo, de planejamento e de capacidade de julgar os fatos.
Diante disso, passei a enfrentar tais desafios com muita determinação. Entrei no campo das discussões com base nas argumentações para que eu pudesse conhecer e refletir os conceitos da nova pedagogia, a qual, como se sabe, tornou-se importante na construção de um projeto de transformação social. No entanto, esses conhecimentos podem ser ampliados na capacidade de definir objetivos futuros e de fazer as melhores opções no dia-a-dia, identificando problemas que possam merecer a nossa atenção.
Para que eu pudesse demonstrar definições no desenvolvimento educacional, bem como profissional, apresentei uma marca essencialmente humana: o resgate da intencionalidade da ação, superando a crise de sentido, possibilitando uma representação nova de trabalho. Enquanto se resgata as práticas da educação, nós (educadores e profissionais) sempre seremos um instrumento de transformação da realidade, gerando esperança, parceria, solidariedade em torno de uma causa comum.
As razões apontadas como desafiadoras, especialmente as que formaram um novo conceito de currículo, de história, de hierarquia, de mitologia, etc., são questões que considero importantes na continuidade de meus estudos. Pois elas contribuíram para que eu pudesse romper com o modelo tradicional que estava preso simplesmente a explicações racionais e científicas, sem dar preferência por temas cotidianos voltados aos saberes locais.
Dentre às experiências vividas, destacou-se a oficina chamada “Saberes Docentes e Poderes em Prática”. Nela, tive a oportunidade de me situar diante dos fatos com mais autonomia, entendi as exigências profissionais. É sempre bom lembrar que para o desenvolvimento de um indivíduo na sociedade, a autonomia tem que ser considerada como algo relativo, capaz de influenciar a transformação de uma teoria que o informou numa prática social e reflexiva. Sobretudo, os conhecimentos adquiridos na formação de nível superior me ajudaram na reelaboração dos saberes iniciais, me deram mais segurança no confronto com a prática vivenciada. Tais conhecimentos foram nascidos também das teorizações, das experiências, da concretização do trabalho, e me ajudaram numa maior valorização de minha formação tanto quanto à significação social, como quanto à profissional. De certa forma, foi esse saber que acabou com a situação conflituosa no interior da escola, porque passei a descobrir o próprio caminho e superei as imposições seguidas de pressões.
Nesta proposta, desde o princípio, procurei adequar o tempo para esclarecimentos, para troca de opiniões, com coragem de enfrentar os problemas, dando-lhes a devida importância no momento de tomada de decisão. A partir das questões elaboradas, tive que me posicionar por escrito, organizando-as em texto, bem como no debate. Eu acho que com isto, alcancei alguns objetivos essenciais, tais como: analisar tecnicamente um texto, analisar conteúdos, fazer rápidos relatos de como aconteceu um trabalho, ter participação ativa nas discussões, saber atuar em plenário. Num sentido geral, é através da elaboração do plano de ação que envolve o processo ensino/aprendizagem que os objetivos propostos passam a se relacionar de forma mais urgentes com a comunidade educacional ou com outros grupos sociais.
Projeto, plano, proposta, palavras semelhantes em suas significações, mas diferentes quando acompanhadas, respectivamente, de suas qualidades pedagógicas, sociais e políticas. Há quem se sinta mal só em ouvir essas palavras (diga-se de passagem que eu também já senti isso), como se elas fossem apenas termos que indicassem burocracia, obrigação, incômodo nas atividades distanciadas da prática. Porém, eu creio que com um pouco mais de esforço nas pesquisas, entender diferenciar estes termos é possível, principalmente para resolver os problemas da nossa realidade e de nossa escola.
Partindo desse princípio, me surgiu uma indagação: será que planejar, projetar e estabelecer métodos nos ajuda a resolver problemas na/da escola? Confesso que foi difícil relatar uma experiência positiva de planejamento, de projeção na/da escola. Por mais que eu estivesse acostumado a ouvir sobre o assunto, não dava para eu entender a dificuldade de me localizar frente a uma ação concreta, da qual tinha participado. De qualquer forma, quem trabalha num espaço escolar ou em qualquer outra instituição, poderia responder essa pergunta, mas quem poderia me dar um exemplo?
Penso na vida pessoal, acordo de manhã, geralmente com vontade de dormir mais. E aí imagino: O que farei hoje? Começo meu dia no calor do cobertor, no macio da cama, a planejar e projetar o que farei, resgatando na memória o que ficou para fazer desde ontem. Lá se vão alguns minutos. Estou de uma maneira ou de outra planejando mentalmente o meu dia, tomando algumas decisões para minha ação e, para tanto, analiso essa mesma ação futura, considerando as minhas condições no momento, sejam elas físicas, psicológicas, financeiras, pedagógicas e práticas.
Dependendo do número de atividades que têm na semana, chego a esquematizar minhas ações, tomando nota e registrando a ordem dos meus compromissos, organizando a seqüência dos afazeres do dia-a-dia, definindo horários, pessoas que não posso deixar de encontrar, GEACS que não posso deixar de participar, tarefas de casa que não posso deixar de fazer. Acabo assim, planejando minhas ações, não de maneira tão sistematizada, mas sim, tomando nota daquilo que é mais importante.
Passei algum tempo avaliando o teor dessa frase: “Se perder o controle, você acabará desistindo”.
Eu sei muito bem que algumas pessoas desistem assim que um obstáculo cruza seus caminhos. É que outras insistem em seguir uma meta depois de anos de frustração e fracasso. Confesso que, em alguns momentos, pertenci ao primeiro grupo, pois eu não assumia a responsabilidade de escolher minhas metas e perseguí-las, acreditando que os resultados fossem aleatórios. Para mim, ter sucesso era como ganhar na loteria, uma pura questão de sorte, não importando o quanto houve de esforço investido. Por pensar assim, em alguns momentos, não me empenhei muito na busca dos meus desejos e objetivos. Estava percebendo que a diferença entre mim e os persistentes era, na verdade, a capacidade de manter o controle e, cheguei à seguinte conclusão: “descansar um pouco, sim. Desistir, jamais”.
Em vista disso, o certo foi encarar os desafios; até porque teriam, diante de mim, vários problemas a serem resolvidos. E assim, assumi minha parcela de responsabilidade nesse processo, sem complicar muito, e parti com disposição para as atividades. Por isso, fui obrigado a fazer algumas reflexões acerca do que eu tinha para alterar em minha rotina, em minha atitude, melhorarando o meu trabalho e alegrando a minha vida.
Estou agora, de certa forma, organizando minhas ações, e até mesmo antecipando o meu futuro, ordenando minhas atividades, a partir das condições mais concretas, pensando nas labutas do cotidiano. Pelos exemplos aos quais me referi, observo que o ato de planejar me exige, em primeiro lugar, um ambiente certo, para depois me envolver em trabalhos conjuntos, chegando a um resultado em prol de todos.
O projeto do qual falei pode ser entendido como um processo de mudanças que determina uma base que regula meu caminho para eu melhorar na organização. Só que eu quero ver uma maneira de desenvolver isto na escola. Queria ver todos os segmentos escolares – alunos e alunas, pais e mães, professores, funcionários, direção e toda comunidade escolar – participarem das propostas pedagógicas. Ao desenvolver este projeto, que até então, está em fase de germinação, pretendo ressignificar minhas experiências e refletir sobre minha prática pedagógica, estabelecendo os meus sonhos e utopias, demonstrando os meus saberes, reafirmando minha identidade, estabelecendo novas relações de convivência e possibilitando uma proposta de ação.
Baseando-se nas leituras de textos, oficinas de conceitos, exibição de vídeos – “a lei da escola” – e questões afins que me indicaram a possibilidade de outras idéias básicas que servissem de sugestões para compor tanto o meu memorial, quanto meus diários no período de formaçãos. E isso tudo foi demonstrando no grupo de orientação com a professora Rúbia Margareth.
O foco dessa orientação foi a aprendizagem de estratégias de leitura e escrita, cujo objetivo da orientadora foi o de incentivar o uso autônomo dessas estratégias. É importante destacar que a professora deixou claro desde o início que não se tratava de um ensino transmissivo, no qual iríamos repetir o que ouvimos, e sim a ampliação das práticas de leitura para variar o repertório de estratégias.
Sempre que eu me mostrava perdido na hora de selecionar as informações mais relevantes, Rúbia Margareth (orientadora) problematizava a situação de forma que eu retomasse os trechos de textos lidos para descobrir as dificuldades que me inquietavam. Foi através desta técnica que pude identificar os elementos-chaves, rever os pontos que eu precisava melhorar, o que estava acertando ou errando.
A metodologia aplicada neste grupo de debate alterou mudanças na minha prática pedagógica, ampliou alguns conceitos didáticos, e também me mostrou sugestões adequadas para maior produtividade e qualidade do trabalho. A prática escolar passou a focalizar as situações reais da vida cotidiana, nas quais eu tive a oportunidade de transpor os objetivos meramente intelectuais e investir na alfabetização emocional, relacionamento humano, ética, cidadania , educação de valores e tantos outros aspectos necessários para a educação integral, centrada no ser e na realidade.
A todo início de ciclo, o esquema de orientação apresentava uma diferença fundamental com relação aos demais ciclos, principalmente no que se refere ao grau de participação dos alunos. Mas além das mudanças captadas, cabe acrescentar que, em todos os ciclos, os temas propostos apareceram para resolver, também, os conflitos que surgiram por conta do “disse-me-disse."
Quanto à forma de resolver conflitos, sinto-me satisfeito com o que presenciei nestas etapas. Os resultados foram muito importantes no que se referem à organização do raciocínio lógico e ao pensamento crítico, pois eu apresentava alternativas variadas quanto ao modelo educacional tradicional e ao renovador. Mas acredito que essa descoberta me causou incômodo para/em assumir o novo, pois jogar fora, o velho, para ficar só com o novo, é tentar resolver falsamente esta ansiedade. Mas também houve um momento em que me organizei para romper com o velho.
Foi neste momento de conflito, no qual ao me assumir diante do novo, que surgiram perguntas do tipo: O que não quero mais? O que ainda quero? O que quero?
Porém, ao entender o grau de minha participação nesta Instituição de Ensino, não posso deixar de contar com o apoio da orientadora Rúbia Margareth. A contribuição dela foi essencial, mas o restante esteve em mim e na minha coragem de criar.
RELAÇÕES PESSOAIS IMEDIATAS
“Escrever é sempre reescrever, isto é, citar, referir-se a escritas anteriores, mesmo sem saber que se está repetindo. A qualquer momento é possível desembarcar para prosseguir viagens em rumos outros, inclusive o da volta ás origens para retomar a caminhada, em outra companhia, por entre a diversidade das paisagens mudadas, dos ritmos e das intempéries. Ela não segue caminhos, os faz e refaz de contínuo, fazendo-se a si mesma”. ( Marques, 1977, P. 40)
Preciso retroceder às recordações que estão para sempre inscritas no meu imaginário: a infância que foi festiva, feliz e de muito trabalho. Os finais de semana e as férias escolares eram vividos no campo, no convívio barulhento e alegre com uma irmã, três irmãos, primos e outros companheiros de algazarra que moravam em Aguada Nova, município de Lapão-Ba.
As brincadeiras na água barrenta da lagoa, o cheiro doce e gostoso do mato, o milho verde assado nas brasas do fogo aceso no barranco da lagoa, os passeios a cavalo pelas roças e o esconde-esconde nos “pés de mamona” são imagens guardadas e cultivadas. Lembro todos os odores e os diferencio com exatidão, do cheiro forte do cavalo ao suave perfume do mato. Uma vida que foi aspirada, tocada, cheirada e respirada. Essa foi a grande escola dos meus sentidos de infância e adolescência.
As tardes eu passava na escola, dependurado numa cadeira que me obrigava os incômodos exercícios de alongamentos na tentativa de evitar algum tipo de distorção. Tocado o sinal do fim das aulas, eu saía correndo em direção à cacimba para poder ajudar minha mãe a encher os banheiros e latas com água. Desses recipientes, a água era transportada para a casinha de banhos onde, suspensos por uma corda, prendia um antigo chuveiro de lata, alimentado manualmente com água fria no verão e água quente no inverno.
Não posso deixar de ressaltar que com meus pais aprendi desde cedo a assumir a responsabilidade por meus atos e a ser mais coerente. O gosto pela independência e a determinação herdei de minha mãe, autoritária e fortemente determinada em tudo que faz.
O amor pela profissão nunca foi herança familiar: três tias paternas, todas estudantes, mas desistiram no “meio do caminho”. Sem dúvida, isso nunca foi um espelho pra mim. É a paixão pelos alunos que faz o educador. Esse amor aprendi com os meus ex-professores que tiveram um grande respeito pela condição humana.
Porém, minha mãe foi e está sendo uma pessoa especial na minha vida. Contrariando os preconceitos machistas, ainda mais rígidos aquela época, mostrou aos filhos que chorar faz parte da condição humana, de homens e mulheres. O amor que nutria por seus semelhantes era cultivado no dia-a-dia com a família, com os amigos e com os mais distantes forasteiros que aparecessem.
Isso só reforça que a família é o primeiro espaço de aprendizagem da competência comunicativa. Na família os pais se desejam um ao outro e na gratuidade do amor se realizam ambos no ser dos filhos, aliando as exigências do afeto com as da responsabilidade que lhes atribui à cultura em que vivem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SILVA, Marco. Pedagogia do parangolé - novo paradigma em educação presencial e online. Disponível em http://www.icoletiva.com.br/icoletiva/secao.asp?tipo=artigos&id=29
SOUZA, Antonio Carlos dos Santos. Objetos de Aprendizagem Colaborativos. 2005. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/024tcc4.pdf .
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