> > | _Na perspectiva de resgate do professor como sujeito da transformação, é necessário considerarmos o trabalho do professor como algo diferenciado, que não se equipara com as outras formas de trabalho muito comuns na sociedade, como a industria, por exemplo. Isso não significa defender que este é um trabalho melhor ou pior, com mais ou menos valor do que outro. Implica sim, caracterizar suas ações de trabalho com elementos específicos, que demandam da própria especificidade do ato de ensinar. Numa sociedade movida pelo capital e seus valores, é perigoso e constitui-se num risco, defender o resgate de um trabalhador da educação a partir de dimensões que se configurem na contra-mão do movimento globalizado, pois falar de relações humanas tornou-se algo fora da moda e com status de ‘atrasado’ em relação à dinâmica complexa que norteia a vida nesse modelo de sociedade.
Ainda que com outras atribuições, a dimensão fundamental, e talvez mais implicada em suas ações, é a dimensão pedagógica do trabalho do professor, que constitui um conjunto de meios empregados por ele na interação com o aluno com objetivo de socializar as relações e os conhecimentos e também, porque não, a instrução (TARDIF, 2002). Em outras palavras, a perspectiva pedagógica da formação do professor se define como a tecnologia utilizada por ele na sua relação com o objeto, que nesse caso, é o aluno. E em sendo assim, ela não é plena quando somente é referendada como transposição didática, na motivação e gestão de uma turma, ou mesmo no trato com o conhecimento específico da sua intervenção.
O caráter pedagógico do trabalho do professor deve estar intimamente ligado às questões cotidianas da sua prática pedagógica, de modo que, historicamente, talvez tenho sido o olhar burocrático e apaixonado demais sobre a profissão que chagou a tornar descartável o professor em tempos de modernidade. Não compactuamos com a idéia de que habilidades inerentes ao homem que o pode tornar um professor em potencial, ou seja, o dom. Defendemos sim, que tratamos de uma profissão onde o objeto de trabalho é um ser humano, e por isso, demanda um conhecimento relacional fundamental, e, que mesmo a paixão motivadora da profissão, urge de uma tecnologia para a ação. A depender da qualidade dessa ação será ou não possível o resgate da dignidade profissional, ainda que outros fatores façam parte desse contexto, e esse conceito de qualidade precisa ser elucidado no bojo do projeto de homem e de sociedade que queremos formar, ou seja, questionarmos a quem serve essa qualidade, contra quem ela depõe, e pra quê ela servirá?
Vasconcellos (2001) contribui com nosso pensamento quando destaca algumas exigências vicerais para dimensão pedagógica do trabalho do professor, a saber: o planejamento assumido como instrumento de transformação da prática e como superação do dogma de ‘cumprir o programa’; objetivo claro de compromisso com a transformação social; a eleição de conteúdos relevantes e implicados no dia-a-dia da sociedade, com um viés crítico para a superação da superficialidade dos problemas, além de estar articulado interdisciplinarmente, sem dependência do livro didático, o que possibilita a busca por novas fontes de informação e leitura crítica da mídia, e, principalmente, um conteúdo que veicule valores como justiça, verdade, liberdade, paz e solidariedade; o uso de uma metodologia que privilegie a participação consciente do sujeito, que promova a construção do conhecimento e problematize os conteúdos e a própria prática social; e por fim, o bom uso da avaliação como instrumento de acompanhamento de todo o processo para a ajudar o aluno a aprender mais e melhor.
Além disso, e Tardif (2002) talvez dissesse que mais importante do que isso, é a dimensão relacional entre professor, aluno e disciplina, discutindo essa última como condição primária para o trabalho coletivo. Essa interatividade precisa estar pautada na dignidade e na crença do outro como ser humano, em valores como respeito, atenção e comunicação autêntica, no combate a quaisquer tipos de discriminação e na capacidade de resolver situações de conflito nesse contexto.
Esses elementos vicerais não apenas se constituem como uma prática utilitária mas, e especialmente, como portadora e ilustradora de tensões sociais acerca dos problemas que surgem da vida em sociedade, o que não nos permite defini-la numa dimensão científica, porém muito mais cultural, ou seja, está recheada de forças ideológicas, valores e interesses.
Portanto, entendemos e defendemos que a dimensão pedagógica da formação do professor é uma forma muito particular do trabalho humano existente na sociedade contemporânea, na qual importa associar a pedagogia a uma tecnologia utilizada por ele no trato com o seu objeto de trabalho: o próprio homem._ |